Canais misóginos no YouTube: como a ‘Machosfera’ lucra com ódio e anúncios

Crescimento da Machosfera no YouTube: Um Negócio Lucrativo de Misoginia
Influenciadores Lucram com Conteúdo Misógino
Uma pesquisa realizada pelo NetLab da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) identificou que influenciadores da machosfera estão movimentando milhares de reais no YouTube através de conteúdo que promove ódio contra as mulheres. O estudo, divulgado em dezembro do ano passado, revela a existência de 137 canais brasileiros dedicados a essa temática, totalizando mais de 105 mil vídeos e cerca de 152 mil inscritos.
Campanha de Ódio Contra a Professora Lola
Lola Aronovich, professora da Universidade Federal do Ceará e fundadora do blog Escreva Lola Escreva, não imaginava que sua luta contra o machismo a colocaria no centro de uma campanha sistemática de ódio online. Desde 2008, ano de criação do blog, ela já recebia comentários misóginos, mas foi em 2010 que teve conhecimento de comunidades no Orkut que discutiam seu trabalho de forma negativa. Com o crescimento das redes sociais, esse discurso violento se intensificou e tornou-se lucrativo.
Monetização e Estratégias de Lucro
A pesquisa aponta que cerca de 80% dos canais analisados utilizam pelo menos uma estratégia de monetização, como anúncios, doações em transmissões ao vivo e assinaturas. Aproximadamente 52% dos canais exibem anúncios publicitários, enquanto 28% utilizam o Programa de Membros do YouTube, permitindo aos inscritos pagar uma taxa mensal para conteúdos exclusivos. Donativos durante transmissões ao vivo, conhecidos como Super Chats, também representam uma fonte significativa de renda, totalizando mais de R$ 68 mil em apenas 257 transmissões analisadas.
Uma Cultura de Violência nas Redes Sociais
Especialistas apontam que a machosfera contribui para um ambiente hostil para mulheres em ações públicas, como políticas e jornalistas. Ana Schreder, criadora de conteúdo, relata ter sido alvo constante de ataques após viralizar no TikTok. A pesquisa revelou que vídeos misóginos que encorajam comportamentos violentos são amplamente disseminados, criando uma cultura que normaliza a desumanização das mulheres.
Desafios na Regulação e fiscalização
O YouTube proíbe conteúdos que promovem violência ou discurso de ódio. Contudo, a eficácia dessas políticas é frequentemente questionada. Segundo a pesquisa, muitos criadores de conteúdo da machosfera utilizam linguagens disfarçadas para contornar a moderação da plataforma. Lola Aronovich compartilha sua frustração ao ser banida sem justificativa, enquanto seus agressores permanecem ativos.
A Necessidade de Políticas Públicas Eficazes
Com o aumento da violência contra mulheres em geral, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, destaca que a regulação das plataformas é fundamental. O contexto atual exige que a regulação não seja vista como uma solução isolada, mas parte de um pacote que envolva educação, saúde e justiça.
A Lei Lola, sancionada em 2018, é uma tentativa de abordar a misoginia online. No entanto, a implementação continua lenta e os especialistas afirmam que a falta de regulamentação eficaz permite que conteúdos misóginos prosperem nas redes sociais.
Conclusão
O crescimento exponencial da machosfera no YouTube evidencia a urgência de uma resposta coletiva e integrada. Combater esse fenômeno exige a mobilização de diferentes áreas para assegurar um ambiente digital mais seguro para todos.
Com informações de: G1